Porra das coincidências...

Conheço o cheiro daqueles corredores a quilómetros, sei o nome de quase todos aqueles enfermeiros, os seguranças sorriem quando me vêem.

Sinto-me estranhamente em casa ali, talvez porque tenha lá passado a maior parte dos últimos anos.

Agora recomeça tudo, as urgências caóticas como sempre, cabeças partidas, presos algemados e idosos, as urgências estão cheias de maiores de 65 anos sozinhos e doentes. E o aperto na alma, a compaixão por eles, o ver neles os meus avós por quem eu tenho um amor tão gigantesco!

E a coincidência, a Porra da coincidência de colocarem a minha avó no exacto lugar onde o meu avô esteve, ver surgir a mesma médica, o ser desumano que achou normal e conveniente dizer à neta de um paciente "sabe que ele não chega ao ano novo não sabe? Desculpe-me mas o meu turno acabou agora, falamos melhor amanhã pode ser? e torna-se tudo demasiado real, demasiado assustador para ser verdade, o sentir "esperem lá, eu já vi este filme" mas há que continuar a acreditar que tudo ficará bem. 

E ficará com certeza, mesmo que ela tenha que permanecer na ala de Avc junto a pessoas que estão bem piores que ela, que ontem já queria assinar o termo de responsabilidade e zarpar para casa...

Mas e o stress esse fica cá a moer-me enquanto conforto os outros e lhes garanto que aquilo é máquina para durar mais 20 anos, no mínimo!!