Tenho pensado inúmeras vezes em escrever este post, outras tantas cheguei mesmo a escrevê-lo mas fui demasiado cobarde para o publicar, Porquê? Não sei bem, talvez porque me custe expressar por palavras algo com o qual lidei, ou evitei, com recurso a piadas sarcásticas e uma capacidade hercúlea de esconder o que não quero ver.
Eu e o meu pai somos dois estranhos que por um erro de cálculo da cegonha acabámos emparelhados, não quero com isto dizer que ele não gosta de mim. claro que gosta, apenas não sabe, nem nunca soube, lidar comigo.
Passámos demasiado tempo longe um do outro e não falo só da distância física (se bem que ele ter ido viver para a China não ajudou em nada), falo de um distanciamento emocional que se acentuou ao longo dos anos e que inadvertidamente criou um abismo entre nós.
Sinto nele um estranho e sei que ele me é estranho, nunca foi a ele que telefonei quando estava triste, ou com quem contei para tomar conta de mim, ele foi sempre uma figura distante que ao longo de 15 anos permitiu que fosse a secretária a comprar as minhas prendas de anos e Natal (não imaginam a quantidade de Barbies que eu tenho), é aquela pessoa que passam-se meses em que não nos falamos, ou vemos.
No fundo a culpa é dos dois, dele que se foi embora e minha que não consegui fazê-lo ver que não se podia divorciar da minha mãe e de mim de uma assentada.
É ridículo que a mesma pessoa que fez um circo em tribunal a exigir que passasse as férias e os meus anos com ele seja a mesma que só me levou de férias 1 vez e nunca passou os anos comigo. A pessoa que embora faça anos no dia a seguir ao meu se tenha esquecido dos meus anos uma vez....
Deixei que ele passasse a ser uma visita cerimoniosa na minha vida, lembro-me perfeitamente de ter cerca de 10 anos, estar em casa dele, e estar constantemente a pedir licença para ir à casa-de-banho ou onde quer que fosse, como se ele fosse um professor austero a quem devia um respeito e obediência exagerados ao invés de uma proximidade familiar.
Agora vejo-me uma adulta que não sabe falar com o pai, que considera ridículo que um dia caso se case, seja ele a leva-la ao altar, que não se lembra de algum dia ter sido abraçada por ele ou de o ter ouvido dizer que gostava dela.
Sei perfeitamente que muitas das minhas manias e inseguranças vêm dele, da nossa relação disfuncional, do facto de ter acreditado durante anos que ele não gostava de mim.
Parece-me quase parvo admitir que fiz ballet durante anos e ele nunca me viu dançar, nunca me foi buscar às aulas, não conhece nenhum dos meus amigos... Levava-me a jantar ou a almoçar e passávamos o tempo calados a olhar um para o outro sem nada a dizer e em menos de 2 horas já estava de volta a minha casa.
Tenho muita pena que assim seja, que seja tarde demais para nós e só espero que um dia possamos ser mais que dois estranhos que são família...