- A mamã disse-me que o avô agora está no céu e que a cabeça dele já não está confusa, que ele já está bem, é verdade? Podias contar-me histórias dele?
Podia e vou contar-te, vou mostrar-te um avô que tu não conheceste, que me ensinou piadas "ordinárias", que me levava à praia das maçãs e aos queques da linha, mas acima de tudo um avô que era um espanto.
Quando eu era pequena, bem mais pequena do que tu és agora, o avô tinha uma empresa de construção e uma pick up vermelha que fazia as minhas delícias, ainda hoje consigo sentir o vento na cara de quando ele me levava a passear na caixa da carrinha.
O avô e a avó tinham por essa altura uns cães de loiça muito "fascinantes" que um dia sucumbiram às minhas mãos e às do primo e sabes o que o avô fez? Nada, coitado, apanhou os cacos, deitou tudo fora, mas não nos ralhou. Ele sempre foi assim, calmo, bem ao contrário da avó!
Lembro-me de olhar para ele depois disso e achar que ele era a melhor pessoa do mundo somente porque tinha evitado que a avó tivesse um ataque!
Lembra-te sempre minha querida que o avô gostava imenso de todos nós, só que a doença fê-lo esquecer-se de quem nós eramos, mas agora, tal como a tua mãe te explicou ele já está bem, já sabem quem tu és.
E assim já se passou quase um mês, as saudades começam a diminuir, começamos a aceitar a inevitabilidade do que aconteceu e a compreender que foi melhor assim.
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